Procurando informações sobre o Rogerio Souza (violão e violão 7, compositor e arranjador) do Grupo Nó em Pingo d'Agua) que estara sexta no Cimples Ócio, acabei encontrado no sitio da Kuarup este texto. Espero que não seja processado. Chama-se Jacob por Jacob. Percam um tempinho.Apresentação
Jacob por JacobTentou cantar uma segunda voz no Hino Nacional e ficou de castigo no primário.
Menino sozinho e "sem licença pra ir na rua", ficava em casa pinicando as cordas de um violino com um grampo, até descobrir seu verdadeiro instrumento, o bandolin, que lhe deu glória e nome.
Sem método e sem professor, tornou-se o maior solista de seu instrumento na história da música brasileira.
Jacob foi, com Pixinguinha, Nazareth e Waldir Azevedo, um dos grandes nomes do choro. Gravou boa parte de sua obra, interpretou outros compositores e teve peças escritas exclusivamente para ele, como o 1º Concerto Para Bandolim e Orquestra de Radamés Gnattali.Pesquisador da música brasileira, tinha um enorme arquivo de partituras (hoje no MIS).
Foi líder de um dos melhores grupos de choro e de seu tempo, o Época de Ouro, e deixou uma obra repleta de choros, valsas, sambas, baiões, frevos, maxixes, polcas, schottish e mazurcas.
Em 1967, dois anos antes de sua morte, com seu português de escrivão da 11º Vara Criminal do então Estado da Guanabara, redigiu literalmente, a seguinte "Nota autobiográfica":
- Jacob Pick Bittencourt, n.14.2.1918, à Rua das Laranjeiras nº 180 (Maternidade), GB, único filho do farmacêutico Francisco Gomes Bittencourt (Cachoeiro de Itapemerim - ES) e de Raquel Pick (Lodz - Polônia), ambos, e todos os ascendentes conhecidos, alheios à música. Reside à Rua Comandante Rubens Silva 62 (JPA- GB). Casado com Adylia Freitas Bittencourt. Filhos: Sérgio Freitas Bittencourt (n. 3.2.41. RJ, jornalista e compositor) e Helena Freitas Bittencourt (n. 8.4.42. RJ, cirurgiã-dentista).
Cursou o primário na Escola Deodoro (Glória-GB), o admissão na Deutsche Schule (atual Cruzeiro do Sul-Senado-GB), o 1º ginasial e o comércial completo, na British American School (atual colégio Anglo Americano-Botafogo-GB), o de perito-contador no Instituto Freycinet e no Instituto Brasileiro de Contabilidade, formado por este em 1957. Nunca exerceu esta profissão. Foi prático de farmácia, vendedor pracista, agente de seguros e de títulos diversos, vendedor de material elétrico, parafusos, sabão e granel, material de papelaria, dono de um laboratório e duas farmácias sucessivamente. Sem vocação para o comércio, prestou concurso para escrevente-juramentado da Justiça da GB, sendo nomeado em 1944. Todas as suas promoções foram por merecimento, inclusive para o atual cargo de Escrivão Titular de Juízo de Direito da 11ª Vara Criminal.
1ª intuição musical: quando, na Escola Deodoro (1º primário), tentou cantar a segunda voz do Hino Nacional. Prêmio: retido até a noite.
1ª manifestação musical: gaita de boca para divertir os colegas na British American School.Bandolin: em 1930/31, na Rua Joaquim Silva 97 (Lapa-GB), onde foi criado, ouviu um vizinho, francês e cego, tocar violino.
Obteve um de sua mãe, estudando sozinho e reproduzindo valsas e modinhas que ela, em casa, e os vendedores de modinhas, na rua, cantavam. O arco era cansativo. Passou a pinicar cordas com granpo de cabelo, sem saber que havia um instrumento adequado para esse modo de tocar, pois não tinha amiguinhos no seu bairro e nem liberdade para ir à rua.
Cordas estouradas, despesas, reclamações, até que uma amiga de sua mãe esclareceu tudo. Comprou, em sua companhia, na Guitarra de Prata, um bandolin de "cuia" (mod. napolitano) que custou 80 mil réis.
Sem métodos nem professores, nele estudou apesar de precário o instrumento. É, até hoje, auto didata.
Em 20.12.933, impelido por amigos, mas sem qualquer interesse, tocou na Rádio Guanabara, à Rua General Câmara nº 60 - 3º andar, na Hora do Amador Untisal, o choro - "Aguenta, seu Fulgêncio" de Atílio Graní, acompanhado do Conjunto do Sereno, organizado, às pressas, no bairro do Lins: Carlos Gil (cavaquinho, falecido), Natalino Gil (irmão do 1º, pandeirista) e Ernesto (um eletricista cujo o destino ignora). O contra-regra era Evaldo Rui. As paredes do studio forradas de saco de aniagem, pois não existia celotex. Não insistiu. Preferiu estudar mais, interessado nas serestas e saraus.
Em 5.5.934, tocou violão na Rádio Educadora (Horas Luso-Brasileiras) e, na mesma noite, no Club Ginástico Português, acompanhando o guitarrista Antônio Rodrigues e os cantores Ramiro d'Oliveira e Esmeraldo Ferreira. Explica: frequentando a Casa Silva, de instrumentos, à Rua do Senado nº17, entusiasmara os guitarristas que ali iam, com certo jeito com que marcava os fados ao violão (produto, certamente, do pouco que sabia nesse instrumento).
As honras eram tantas que quase abandona o bandolin e se transforma num segundo Xavier Pinheiro.
Finalmente:Em 27.5.934, com o Conjunto "Jacob e sua Gente" (Carlos Gil, cavaquinho, Osmar Menezes, violão, falecido, Valério Farias "Roxinho", violão, Manoel Gil, pandeiro e Natalino Gil, ritmista), assim batizado por Eratóstenes Frazão, obteve o 1º lugar entre 28 conjuntos, no Programa Guanabara, em Concurso promovido pelo "O Radical" e dirigido por Frazão. O 6º lugar foi do cantor de foxes Haroldo Barbosa (ex-cavaquinista). Banca examinadora que lhe conferiu, unanimente, 10 pontos: Orestes Barbosa, Francisco Alves, Benedito Lacerda, Cristovão de Alencar, Eratóstenes Frazão, Alberto Manes, (diretor da Rádio Guanabara), Oscar Pamplona (de "O Dragão"), e sua filha Maria Pamplona (professora do Instituto Nacional de Música).
Com esse conjunto passou a colaborar, alternadamente, com o de "Benedito Lacerda e Gente do Morro", nos acompanhamentos dos principiantes e, depois, a Manesinho Araujo, Silvio Vieira, Henricão e Sarita, Cléo Silva, Dupla Preto e Branco (Herivelto e Francisco Sena), Noel Rosa (que orgulho!), J. Cascata, Renato Muros, Zaira de Oliveira, Afonsinho (cantor e futebolista), Murilo Caldas, Jaime Brito, Ciro de Souza, Mário Moraes, Fausto Paranhos, Leonel de Azevedo, Dunga, Joel e Gaúcho, Sílvio Pinto, Luiz Barbosa, Djalma Ferreira, Augusto Calheiros etc. (referências para fixar épocas e ambientes).
Tocou nas rádios, Educadora (nas 3 sedes: Rua 1º de Março, Senador Dantas e Marquês de Valença), Mayrink, Club, Cajuti, Ipanema, Mauá e Nacional (1955/58). Toca de ouvido e, desde 1949, também por música, que aprendeu sozinho.
Toca todos os instrumentos afiados em quintas justas e vibrados por palheta. Precariamente, cavaquinho e violão. Criou (ou adaptou) a violinha, o vibraplex, tuba de cordas, barítono de cordas e bandolim-brilhante (em estudo).
Produtor do programa "Noite dos Choristas", na TV Record, em 1955 e 1956, quando, num só conjunto, reuniu cêrca de 130 instrumentistas principiantes, que mal sabiam afinar seus instrumentos, conseguindo um resultado digno dos aplausos dos maestros Pixinguinha e Gerra-Peixe.
Musicófilo e colecionador de músicas populares brasileiras, principalmente instrumentais.
Troféus e Títulos:
1954 - "O melhor solista" (Guarani) - 1º Festival Brasileiro do Disco (Diário Associados - SP)1961 - "Melhor Solista Popular" (Euterpe) - Prêmio Cidade São Sebastião do Rio de Janeiro
1964 - "Melhor LP de Música Brasileira" (Guarani) - 3º Festival do Disco - SP
1964 - "Melhor LP de Música Brasileira" - Associação Brasileira de Críticos de Discos
1966 - Membro do Júri do Concurso "Um Cantor por 10 milhões e 10 milhões por uma canção"
1967 - Membro do Júri do 1º Festival Estudantil de Música Popular
1967 - Membro da Comissão de Seleção de Música para o Carnaval de 1968.
- Membro nato do Conselho de Música Popular Brasileira do Museu de Imagem e do Som.
fonte:
http://www.kuarup.com.brApresentação do CD Sempre Jacob